'A QUEDA DO CÉU - PALAVRAS DE UM XAMÃ YANOMANI. ENTREVISTA COM BRUCE ALBERT E 'A ÚLTIMA FLORESTA' FILME, EXPOEM A SABEDORIA XAMÃ

 Davi Kopenawa, líder e xamã dos Yanomami, e Luiz Bolognesi, diretor, falam do filme 'A Última Floresta', que criaram juntos

*Por Débora Pinto

Davi Kopenawa, líder e xamã dos Yanomami, e Luiz Bolognesi, diretor, falam do filme ‘A Última Floresta’, que criaram juntos

 1 de outubro de 2021  Mongabay Brasil


*Por Débora Pinto


Davi Kopenawa, xamã e grande líder do povo indígena Yanomami, a partir de um sonho pôs-se a refletir: a televisão, o cinema e todas as imagens criadas e transmitidas são parte importante da cultura dos brancos. Concluiu que seria uma boa ideia fazer um filme. “O povo da cidade não reconhece o meu povo. Os brancos não tinham ido lá ainda para fazer um filme, para colocar na tela grande para eles olharem. Não é para ficar olhando só carro, navio, avião”, explica Kopenawa em entrevista concedida à Mongabay Brasil.


Já o diretor Luiz Bolognesi, ao ler o livro A Queda do Céu – Palavras de um Xamã Yanomami, relato autobiográfico de Kopenawa escrito em parceria com o etnólogo Bruce Albert,  decidiu que queria fazer um filme com o xamã. A parceria tornou-se ainda mais profunda quando Bolognesi escolheu escrever o roteiro juntamente com Kopenawa e realizá-lo em colaboração com os indígenas da comunidade Watoriki, na Terra Indígena Yanomami, no estado de Roraima, extremo norte do país.


Desses encontros nasceu A Última Floresta, documentário que estreou nas salas de cinema brasileiras em 9 de setembro (como o Conexão Planeta contou, aqui).


Embora essa seja a estreia oficial nas telas grandes das cidades, desde sua primeira exibição no mês de abril, na Mostra Internacional de Documentários É tudo Verdade, a produção já venceu o prêmio do público na mostra Panorama no 71º Festival de Berlim, o de Melhor Filme no 18º Seoul Eco Film Festival, na Coreia do Sul, o de Melhor Documentário no Festival Zeichen der Natcht, em Berlim, e o Prêmio Artístico de Melhor Obra no Festival dos Povos Originários, de Montreal (veja aqui).


“Já andou bastante e vai continuar andando. Onde eu não posso andar, o filme estará levando as histórias dos Yanomami e a nossa resistência às ameaças que estamos sofrendo principalmente por causa dos invasores, dos garimpeiros e do governo Bolsonaro”, sinaliza o líder.


Segundo o relatório Cicatrizes na floresta: evolução do garimpo ilegal na TI Yanomami em 2020, produzido pela Hutukara Associação Yanomami (HAY) e Associação Wanasseduume Ye’kwana (Seduume), apenas entre janeiro e dezembro de 2020 uma área equivalente a 500 campos de futebol foi devastada na TI Yanomami e 500 hectares de Floresta Amazônica foram destruídos pelo garimpo ilegal no território – o que indica um aumento de 30% em relação ao ano anterior.


A maior TI do país conta com pouco mais de 9.6 milhões de  hectares (96,65 km² ) e é habitada por aproximadamente 26 mil indígenas de oito povos, (os Yanomami, os Ye’kwana e outros seis povos isolados).


Estima-se que pelo menos 25 mil garimpeiros ocupem a área atualmente incentivados pelo discurso presidencial, que defende abertamente a exploração de minérios nas TIs. Durante a pandemia de covid-19, a presença dos garimpeiros tem significado também um foco de contágio na Terra Indígena. Essa ameaça constante e concreta é um dos dispositivos narrativos centrais do filme.


Na entrevista a seguir, Bolognesi e Kopenawa falam sobre o processo de produção, as conexões reveladas entre a realidade contemporânea Yanomami e a dos não-indígenas – como o avanço do protagonismo feminino e a dificuldade dos jovens diante de uma realidade cada vez mais fragmentada – e como o cinema pode contribuir para os povos indígenas brasileiros no momento em que lutam contra o avanço de mecanismos legais capazes de elevar consideravelmente a ameaça às suas existências, como a tese do marco temporal e o Projeto de Lei 490.


Como é estrear o filme A Última Floresta nos cinemas brasileiros em meio à votação do marco temporal e aos protestos de milhares de indígenas em Brasília? Qual a importância de trazer os Yanomami para as telas grandes das cidades exatamente neste momento?

Davi Kopenawa: Eu não estou preocupado com a votação do marco temporal, eu estou revoltado. A mesma coisa com o Projeto de Lei 490 [que visa facilitar o uso de terras indígenas para grandes projetos econômicos]. O filme conta as histórias do povo indígena Yanomami, mas isso não significa que o meu povo seja mais importante. Todos os povos indígenas são como um só povo, como um só coração, e agora todos nós estamos enfrentando sérias dificuldades. Então, o filme pode ser bom para que mais gente conheça e para que as pessoas de boa cabeça se juntem a nós nessa luta.


Luiz Bolognesi: Por um lado é estranho, porque ainda estamos em meio a uma pandemia, então sabemos que não teremos um público tão expressivo. Por isso mesmo, daqui alguns meses o filme também será disponibilizado em streaming, para que o maior número possível de pessoas possa acessá-lo.


Mas é importante trazermos a potência Yanomami e desse filme para se somarem a uma luta que, infelizmente, não mobiliza a sociedade brasileira como deveria. Nós ainda carregamos essa negação da nossa raiz cultural indígena, da importância desses povos para o país que somos. E é justamente essa indiferença que permite o avanço do genocídio e do ecocídio que nós estamos presenciando no país atualmente. Então, estar estreando nos cinemas agora também pode ser considerado um ato de resistência.


Davi,  por que você quis fazer esse filme?

Davi Kopenawa: Eu queria mostrar. Mostrar a minha comunidade, mostrar a verdadeira beleza moderna que temos na floresta do Brasil. Por isso eu disse ao Bolognesi: ‘vamos lá, vamos trabalhar, vamos fazer um filme bem trabalhado’. O povo da cidade não conhece o povo Yanomami, nós moramos muito longe, perto das montanhas [a TI Yanomami fica em Roraima, na fronteira com a Venezuela].


É importante mostrar quem são os indígenas brasileiros, aqueles que cuidaram primeiro do nosso lugar, do nosso país. Fazer um filme é importante porque quem não conhece pode se perguntar: ´quem é Davi?’, ‘como serão esses Yanomami?’, ‘será que eles são morenos, será que são feinhos’, ‘será que eles são bicho’? O nosso povo Yanomami não é bicho, não é selvagem.


Então eu queria mostrar a imagem do meu pessoal e também a floresta, já que a floresta é a nossa casa – onde a gente vive, onde a gente come, onde a gente faz o estudos dos xapiri [seres sagrados da floresta], aprende interagindo com a natureza. Por isso foi bom encontrar o “Cabeça de urubu” [apelido carinhoso dado por Kopenawa ao diretor Luiz Bolognesi, por este ser careca]. Eu acho que é um jeito dos não-indígenas sentirem que é importante deixar o povo Yanomami protegido, e de garantir que possa viver em suas terras.


Luiz, no filme Ex-Pajé você contou a história de um pajé que perdeu o seu poder diante da proliferação da fé evangélica em sua comunidade. Com A Última Floresta, sua intenção era deixar ver a potência dos que conseguiram preservar sua cultura e seu sagrado, tendo como central a figura de Davi Kopenawa. Como foi construir, cinematograficamente, essa potência?   

Luiz Bolognesi: Era muito importante isso para o Davi, que os Yanomami não aparecessem como os coitadinhos. Afinal de contas, segundo ele, nós é que estamos doentes e enfraquecidos – e quando começamos essas conversas a pandemia ainda nem tinha acontecido.


Acho que o dispositivo fundamental foi ter chamado o protagonista do filme para ser também autor, radicalizando nesse lugar. Quando nós começamos o trabalho, foi o Davi quem tomou as decisões, no sentido de quais seriam as linhas narrativas, quais histórias seriam contadas – e ele fazia essa escolha coletivamente, com os membros da sua comunidade. Isso foi o que permitiu esse transpirar de um cinema dentro da ética e da estética indígena.


Em alguns momentos eu defendia algumas ideias e o Davi dizia “não, não é assim que nós contamos, não é assim que as coisas são, não é assim que nós sonhamos”. Eu estava ali com a minha experiência como roteirista tanto dos meus filmes quanto nos de outras pessoas, mas me deixando conduzir por esses modos diferentes  de construir uma narrativa cinematográfica.


Se as entidades sagradas estão presentes no dia-a-dia, isso deveria aparecer no filme. A mesma coisa com os sonhos e a sua centralidade. Se escolheram filmar a história de Omama e Yoasi, as duas entidades criadoras de toda a floresta, vamos fazer isso. Aqui a gente assumiu que poderia existir um certo estranhamento por parte do espectador diante de uma realidade que abarca esses elementos mágicos, mas essa experiência de imersão também é parte da proposta do filme.


Outro dispositivo que fez toda a diferença foi exercitar uma certa perda de controle, algo que é muito difícil para um diretor. Em certo momento eu cheguei a perder o sono porque parecia que estava ficando tudo muito abstrato, e eu pensava na equipe ali, filmando na comunidade Watoriki [dentro da TI Yanomami] por cinco semanas, mobilizando tantos indígenas.


Mas essa perda de controle foi necessária, estar aberto para o que o ambiente trazia, para a disponibilidade e relação com o tempo dos indígenas. Nós não impusemos a eles um cronograma de filmagens, então muitas decisões acabavam sendo tomadas na hora, a partir dos acontecimentos, dos pássaros, da chuva, do horário de dormir e acordar, da relação com a fogueira durante a noite. Eu precisava perder essa autoridade da branquitude para deixar a câmera se impregnar verdadeiramente da poesia daquela realidade.


Por fim, vale lembrar que os Yanomami têm em si uma força e um senso estético muito evidenciados. Eles sabem que são bonitos, não se intimidam diante das câmeras. É um tipo de noção de si que é muito difícil de alcançar para um não-indígena e que também transparece quando filmada.



Moradores da comunidade Watoriki, na TI Yanomami, assistem ao documentário A Última Floresta. Foto: Marcos Amend (responsável pela direção de fotografia do filme)

Entre as histórias escolhidas está a de um jovem que, aliciado pelas oportunidades do garimpo e do mundo dos brancos,  é aconselhado a permanecer em sua comunidade – um dos momentos mais delicados do filme. Como foi lidar com a questão geracional na hora de construir essa narrativa? 

Davi Kopenawa: Tem uma parte dos jovens Yanomami que está com a cabeça estragada por causa do dinheiro, com a ilusão de ganhar dinheiro com o garimpo ou no mundo dos brancos. O dinheiro é um grande destruidor da nossa mente. Eles têm curiosidade de conhecer celular, televisão, computador – eles querem conhecer tudo o que o branco usa. E assim ele está adoecendo o pensamento dele.


O celular é bom para falar. Não para ficar olhando, ficar vendo filme de violência, de um machucando o outro. Essa relação com o celular é uma doença que chegou primeiro até vocês, que também precisam lidar com isso com os filhos de vocês. Eu não diria a todos, mas metade dos jovens já não tem mais tanto interesse em trabalhar na roça, em caçar, em ajudar a fazer o que precisa. E existe o perigo para a cabeça desse jovem e isso foi bom de mostrar no filme.


Luiz Bolognesi: Nós tivemos uma experiência muito forte, que foi ver um conflito geracional ocorrer na nossa frente. Embora não exista nem sinal de internet nem de telefonia em Watoriki, alguns jovens têm celular onde assistem a filmes ou se distraem com jogos e utilizando a energia da equipe para carregar as suas baterias. As lideranças pediram para que não permitíssemos mais essa ação, o que gerou uma pequena revolta por parte dos jovens. Nós não colocamos isso no filme porque não queríamos aparecer como personagens, mas foi  interessante perceber esse conflito.


Particularmente, eu acredito que o celular tem também se transformado em ferramenta para os jovens indígenas na criação de conteúdo jornalístico e de arte, como um instrumento de afirmação de sua cultura. Lembrando que para esses jovens a escolha por ir para o mundo dos brancos significa, em muitos casos, passar a viver em situação de vulnerabilidade nas periferias das cidades.


Outro trecho trata sobre as mulheres da comunidade, que chegam a conversar sobre a possibilidade de se unirem em uma associação para venderem seus artesanatos – e, assim, se tornarem menos dependentes dos homens. As mulheres Yanomami estão em busca dessa emancipação? 

Luiz Bolognesi: Essa foi uma das etapas mais desafiadoras do processo. Eu acabava passando muito tempo conversando com as mulheres. Eram conversas muito intensas nas quais elas me contavam sobre temas como sexo, menstruação, filhos, as formas como se relacionavam com as suas atividades cotidianas. Além disso, a câmera se apaixonou por elas. Então, sugeri ao Davi que a gente contasse uma parte da história partindo do ponto de vista das mulheres, que elas fossem escutadas. E a primeira reação dele foi negativa.


Na cultura Yanomami, a tomada de decisão é exclusivamente masculina e essa estruturação hierárquica entre os gêneros é muito presente. Passado um tempo, o Davi me procurou para dizer que eu tinha razão, que nós tínhamos que contar as histórias das mulheres. Como foram elas que escolheram a narrativa, é possível afirmar que existe  uma movimentação no sentido de elas entenderem, sim, como ocupar de uma forma diferente o seu espaço na comunidade e em relação aos homens.


Davi, o filme também mostra o tenebroso avanço do garimpo sobre o seu território, com o nosso modo de vida capitalista destruindo a floresta que nutre toda a força Yanomami que agora pode ser vista nas telas. O que você gostaria que nós, não-indígenas, aprendêssemos com as histórias que foram contadas?

Davi Kopenawa: A primeira coisa é que eu acho que nós fizemos um filme muito bonito. E é importante que seja bonito. Preservação é uma palavra bonita. Então eu gostaria que vocês aprendessem a pensar, a dar valor para o que é bonito e também para o que protege a vida nesta terra-planeta. Porque nós estamos lá na terra-floresta, trabalhando, protegendo. Se vocês continuarem destruindo, quem vai sofrer com isso não vai ser o povo da floresta só, vão ser vocês também.


Então, eu acho que é isso. Acho que já está na hora de vocês começarem  a pensar. Vocês estão precisando também começar a aprender com com o que já está acontecendo ao redor de vocês, com as mudanças climáticas. Olhar não é só só para cinema.


*Este texto foi publicado originalmente no site Mongabay Brasil em 24/9/2021 e publicado aqui, no Conexão Planeta, por Mônica Nunes

Fonte:https://conexaoplaneta.com.br/blog/davi-kopenawa-lider-e-xama-dos-yanomami-e-luiz-bolognesi-diretor-falam-do-filme-a-ultima-floresta-que-criaram-juntos/#fechar






“A queda do céu” do líder e xamã yanomami Davi Kopenawa, escrito em parceria com o antropólogo francês Bruce Albert

Relato de xamã Yanomami revela a riqueza e as lutas dos povos da floresta em livro de gênero único.

Um grande xamã e porta-voz dos Yanomami oferece neste livro um relato excepcional, ao mesmo tempo testemunho autobiográfico, manifesto xamânico e libelo contra a destruição da floresta Amazônica.
Publicada originalmente em francês em 2010, na prestigiosa coleção Terre Humaine, esta história traz as meditações do xamã a respeito do contato predador com o homem branco, ameaça constante para seu povo desde os anos 1960. A queda do céu foi escrito a partir de suas palavras contadas a um etnólogo com quem nutre uma longa amizade - foram mais de trinta anos de convivência entre os signatários e quarenta anos de contato entre Bruce Albert, o etnólogo-escritor, e o povo de Davi Kopenawa, o xamã-narrador.
A vocação de xamã desde a primeira infância, fruto de um saber cosmológico adquirido graças ao uso de potentes alucinógenos, é o primeiro dos três pilares que estruturam este livro. O segundo é o relato do avanço dos brancos pela floresta e seu cortejo de epidemias, violência e destruição. Por fim, os autores trazem a odisseia do líder indígena para denunciar a destruição de seu povo.
Recheada de visões xamânicas e meditações etnográficas sobre os brancos, esta obra não é apenas uma porta de entrada para um universo complexo e revelador. É uma ferramenta crítica poderosa para questionar a noção de progresso e desenvolvimento defendida por aqueles que os Yanomami - com intuição profética e precisão sociológica - chamam de "povo da mercadoria".


Fonte:https://www.amazon.com.br/queda-do-c%C3%A9u-Davi-Kopenawa/dp/8535926208


‘A Queda do Céu – Palavras de um xamã yanomami’. Entrevista com Bruce Albert (National Geographic Brasil)

ENTREVISTA 29/09/2015

“A produção indígena na cena cultural é, de fato, cada vez mais importante no Brasil, mas ainda muito aquém de suas imensas possibilidades”, afirma Bruce Albert, um dos autores do livro. Confira uma entrevista com o etnólogo francês

por Felipe Milanez 

Da amizade de 30 anos entre o etnólogo francês Bruce Albert e o xamã e porta-voz do povo YanomamiDavi Kopenawa nasceu A Queda do Céu, lançado agora pela Companhia das Letras no Brasil. 720 páginas, R$ 69,90). Publicado originalmente em francês em 2010, na prestigiosa coleção Terre Humaine, o livro é um libelo contra a destruição da Floresta Amazônica e traz as meditações do xamã a respeito do contato com o homem branco, ameaça constante para seu povo desde os anos 1960.

Davi Kopenawa nasceu por volta de 1956, em Marakana, grande casa comunal situada na floresta tropical de piemonte do alto Rio Toototobi, no norte do estado do Amazonas, próximo à fronteira com a Venezuela. A vocação de xamã desde a primeira infância, fruto de um saber cosmológico adquirido graças ao uso de potentes alucinógenos, é o primeiro dos três pilares que estruturam o livro. O segundo é o relato do avanço dos brancos pela floresta e seu cortejo de epidemias, violência e destruição. Por fim, os autores trazem a odisseia do líder indígena para denunciar a destruição de seu povo. Recheada de visões xamânicas e meditações etnográficas sobre os brancos, A Queda do Céu não é apenas uma porta de entrada para um universo complexo e revelador. É uma ferramenta crítica poderosa para questionar a noção de progresso e desenvolvimento defendida por aqueles que os Yanomami – com intuição profética e precisão sociológica – chamam de “povo da mercadoria”.

Na entrevista abaixo, o jornalista Felipe Milanez entrevista Bruce Albert, doutor em antropologia pela Université de Paris X-Nanterre e pesquisador sênior do Institut de Recherche pour le Développement (IRD, Paris). Albert participou em 1978 da fundação da ONG Comissão Pró-Yanomami (CCPY), que conduziu com Davi Kopenawa uma campanha de 14 anos até obter, em 1992, a homologação da Terra Indígena Yanomami. Viaja à terra yanomami praticamente todos os anos, há quatro décadas.

Como surgiu a ideia do livro e como ele pode inspirar novos trabalhos literários de lideranças indígenas?

Bruce Albert A ideia do livro nasceu durante a invasão garimpeira da terra yanomami no fim dos anos 1980. O caos sanitário e ambiental era total. A sobrevivência do povo Yanomami no Brasil estava em jogo. Davi estava profundamente angustiado e revoltado. Pensou que, para evitar o fim de seu povo devia contar sua história e transmitir seus conhecimentos. Ele sabia que, para os brancos, o que não está escrito não existe. Queria, portanto, que as palavras yanomami, inaudíveis nas cidades, saíssem da floresta e se espalhassem pelo mundo afora na forma de um livro. Nós já éramos amigos, engajados contra o garimpo, eu falava yanomami o suficiente. Ele decidiu pedir minha ajuda para escrever suas palavras, que são também as antigas palavras do seu povo. Inventamos assim juntos este livro “falado-escrito” que acabou tecendo uma mensagem xamânico-política com um projeto de descolonização da escrita etnográfica.

O que acho fundamental nesta parceria, foi justamente essa vontade de cruzar, em pé de igualdade, nossas perspectivas intelectuais num projeto político-etnográfico comum. Eu acho que esta forma de etnografia colaborativa tem bastante potencial para divulgar a história e o pensamento de muitos povos sem acesso à escrita. Mas trata-se de uma forma transitória. Muitos letrados indígenas já surgiram e continuam surgindo e estão hoje, Brasil afora, inventando seus próprios gêneros de autoetnografia, estilos de escrita e formas literárias. É um movimento de reapropriação da etnografia que tem como pano de fundo o surgimento progressivo dos povos indígenas como sujeitos políticos desde os anos 1970.

O que mais marcou a sua vida na sua relação com os yanomami e como o pensamento deles se situa em meio a grande diversidade de pensamentos indígenas no Brasil?

Bruce Albert Encontrei os yanomami muito jovem, há mais de três décadas, e obviamente marcaram muito minha vida intelectual e pessoal em muitos aspectos. Acho que a lição mais interessante que podem nos dar os yanomami – os povos indígenas em geral – não remete nem as experiências individuais, necessariamente anedóticas, nem a saberes específicos, inevitavelmente recortados ao sabor de nossas fantasias utilitaristas.

O que os índios nos ensinam fundamentalmente é que existem outros universos humanos e não humanos possíveis e pensáveis, e que o nosso mundo, tão arbitrário quantos os outros e consideravelmente mais mortífero, não é necessariamente o mais digno de apreço. Este efeito de comparação perturbador constitui uma contribuição fundamental para destabilizar a cegueira de nosso narcisismo autodestrutivo e assim, tal vez, garantir nossa sobrevivência intelectual e física. Sem isso, estamos condenados à morte dos xamãs e à queda do céu, como nos ensina Davi Kopenawa. Esta é a vocação do livro, além de sua dimensão etnobiográfica.

O que era “ecologia” para o senhor, na época em que conheceu Davi? E o que é ecologia hoje?

Bruce Albert Conheci Davi em 1978, tinha 26 anos e “ecologia” era ainda um tema muito incipiente. Suponho que, na época, eu não pensava muito além das noções de senso comum da minha sociedade de origem. Inventamos a noção de “natureza” como um vasto espaço exterior a humanidade ocidental – um espaço “selvagem” dedicado ao desbravamento e à exploração sem limites. Este imenso espaço misterioso e ameaçador circundava o espaço outrora restrito da (boa) sociedade e da “civilização”. Mais tarde a perspectiva se inverteu. Com o avanço da industrialização, chegamos à noção de “meio ambiente”, uma “natureza” vencida e transformada em uma variedade de espaços cada vez mais residuais, englobados pela sociedade dominante (reservas, parques, etc).

São estas nossas categorias que a contra-etnografia do Davi Kopenawa contribui a descontruir com muita perspicácia. Ele desafia, por um lado, nossa velha categoria de natureza através de sua tradução da urihi a pree, a “terra-floresta mundo”, que engloba uma fervilhante sociedade de seres visíveis ou invisíveis, humanos e não-humanos. Ele sugere que nossa noção de “ecologia” deveria hoje se aproximar desta perspectiva anti-antropocêntrica para poder conversar com a tradição xamânica indígena. Por outro lado, ele reduz nossa categoria de “meio ambiente” a uma fórmula impiedosa : “é o resto do que vocês ainda não destruíram”.

Vivemos hoje uma crise política e econômica, e sobretudo uma grande crise ecológica. Que perspectivas de saída podemos vislumbrar através do ponto de vista yanomami?

Bruce Albert Davi Kopenawa propõe uma poética, humorada e muito certeira etnografia de nosso absurdo fascínio por mercadorias que ironiza chamando de “mercadorias-namoradas”. Além disso, ele nos oferece um sábio diagnóstico xamânico sobre a queda do céu cujas conclusões são basicamente as mesmas que a dos cientistas do IPCC: se persistimos com nosso mito do crescimento infinito e nossa economia predadora de combustíveis fósseis, chegaremos a um catástrofe socioambiental de magnitude ainda pouco imaginável para o público em geral, porém já muito bem pensada pelo xamãs dos povos indígenas. A mensagem é, portanto : ter a audácia de pensar/construir um novo mundo para deixar de ser o grotesco e perigoso “Povo da Mercadoria” descrito pelos xamãs yanomami.

Como o senhor analisa a atual conjuntura dos povos indígenas no Brasil?

Bruce Albert A situação é a pior possível. Da novela do genocídio dos guarani à mortalidade infantil subsaariana dos yanomami ou dos povos do Vale do Javari, assistimos hoje a uma volta inquietante aos tempos do indigenismo sombrio da ditadura. O modelo de economia de commodities, apresentado como novo milagre desenvolvimentista pelos governos recentes, não passou de um lamentável remake – em versão chinesa – dos sonhos falidos da ditadura. Sob a fachada de um “progressismo” traído, os velhos tempo neocoloniais vigoram como nunca para os povos indígenas.

A antropologia às vezes é vista como uma ciência que fala de situações muito específicas, e difíceis de serem generalizadas. No livro, a crítica da Davi parece estender-se para um plano geral, e somos convidados a refletir sobre o mundo através da visão yanomami. Há uma mudança, nesse sentido, de rumos na antropologia?

Bruce Albert A (nossa) antropologia escreve em nome dos outros e idealmente o faz (ou deveria fazê-lo) com empatia, solidariedade política e com um esforço de tradução à altura intelectual de seus interlocutores. Resta que, mesmo assim, guarda um indevido monopólio sobre a descrição e a publicação dos mundos vividos alheios e sobre a antropologia dos outros. Esse caminho não é mais sustentável. Como falei, os povos indígenas da Amazônia emergiram, há algumas décadas, enquanto sujeitos políticos no cenário nacional e internacional. Esta situação está aos poucos abrindo espaço não somente às crescentes experiências de autoetnografia e de etnografia colaborativa, como mencionei, mas também à possibilidade de uma contra-etnografia indígena sobre nosso mundo, portanto de uma antropologia reversa, como a elaborada por Davi Kopenawa. A (nossa) antropologia, ao dialogar cada vez mais com os intelectuais indígenas num pé de igualdade, deveria portanto tornar-se cada vez mais simétrica e fonte de cruzamentos conceituais.

Nos últimos anos os povos indígenas têm sido responsáveis por uma grande e intensa produção cultural. O que tem impedido que a produção seja ainda maior e qual o papel da academia nesse sentido?

Bruce Albert A produção indígena na cena cultural é, de fato, cada vez mais importante no Brasil, mas ainda muito aquém de suas imensas possibilidades : existem no pais 243 povos falando mais de 150 línguas. A razão essencial, me parece, é que, no Brasil de 2015, a maior parte dos povos indígenas tem ainda que lutar para sobreviver fisicamente face a espoliações e violências. Acho portanto que os antropólogos, além da sua solidariedade política, têm mesmo, nestes tempos críticos, que intensificar os seus esforços para apoiar o movimento indígena de expressão autônoma na escrita, artes plásticas, música, vídeos, etc. Existem experiências históricas neste sentido no Brasil, como o projeto Vídeos nas Aldeias ou a série Narradores do Rio Negro, do Instituto Socioambiental. Me parece que o mundo acadêmico poderia se abrir mais à novas experiências etnográficas centradas na autoria indígena. Espero que A Queda do Céu seja um incentivo para isto.

Nesse ano também foi lançado o livro de Ailton Krenak, alguns anos atrás foi Álvaro Tukano. São alguns exemplos de livros produzido por indígenas de uma mesma geração (hoje com 50 a 70 anos), que foram jovens lideranças nos anos 1980 e que lutaram para alcançar os direitos que estão hoje na Constituição Federal. Como o senhor vê essa geração, o que mudaram e romperam com a anterior, e o que deixam para as próximas?

Bruce Albert As lideranças indígenas da geração do Davi Kopenawa, formam uma geração histórica, de pioneiros das lutas e da organização do movimento indígena. É uma geração de líderes carismáticos, cujas singularidades fora do comum foi capaz de representar simultaneamente seus povos e os povos indígenas da Amazônia de maneira mais ampla. A partir dos anos 1990, estas figuras emblemáticas, até então solitárias, começaram a abrir espaço para as gerações mais novas, que passaram por experiências diversas de escolarização e constituíram o viveiro das inúmeras associações indígenas que se formaram desde então. A trajetória do Davi é exemplar nesta geração. Sua pequena infância se desenvolveu longe do brancos, foi depois alfabetizado por missionários evangélicos, trabalhou em sua juventude na FUNAI como intérprete, tornou-se uma liderança de destaque nacional e internacional no anos 1980-1990 e, enfim, promoveu a fundação da Hutukara Associação Yanomami em 2004. No livro, Davi relata com uma emoção vibrante todos os momentos chaves desta incrível odisseia entre dois mundos, do medo que teve dos primeiros brancos vistos na infância, até sua primeira visita a Nova York. É realmente um depoimento fundamental para a história dos Índios no Brasil, mas também, simplesmente, para a história do Brasil contemporâneo.

Fonte:https://umaincertaantropologia.org/2015/09/30/a-queda-do-ceu-palavras-de-um-xama-yanomami-entrevista-com-bruce-albert-national-geographic-brasil/

‘A Queda do Céu’ expõe sabedoria de xamã, dizem curadores do 200 anos, 200 livros (Folha de S.Paulo)

www1.folha.uol.com.br

Intelectuais comentam o livro de Davi Kopenawa e Bruce Albert, uma das obras mais indicadas no projeto

Gabriel Araújo

27 de junho de 2022


No mês passado, a terra indígena Yanomami completou 30 anos de demarcação, efeméride marcada, por um lado, pelo luto pela violência que a comunidade tem sofrido e, por outro, pela celebração dos direitos alcançados nessas três décadas.

Na ocasião, como contou reportagem da Folha, o anfitrião e líder indígena Davi Kopenawa lembrou a cosmogonia descrita no livro “A Queda do Céu”, escrito em coautoria com o antropólogo francês Bruce Albert.

“No começo do mundo, o céu caiu e matou o primeiro povo que nasceu. Nós somos o segundo povo, aquele que segurou o céu e pôde sobreviver”, ele disse, não sem antes ressaltar que o risco de uma nova queda é iminente.

Lançado em 2015, “A Queda do Céu” ocupa o segundo lugar no projeto 200 anos, 200 livros, que indicou importantes obras para entender o Brasil.

O livro foi recomendado por 20 dos 169 intelectuais que compuseram o conselho curador da iniciativa, promovida pela Folha, pela Associação Brasil Portugal 200 anos e pelo Projeto República (núcleo de pesquisa da Universidade Federal de Minas Gerais – UFMG).

“Grande Sertão: Veredas” (1956), de Guimarães Rosa, também ocupa a segunda posição, com 20 recomendações. “Quarto de Despejo” (1960), de Carolina Maria de Jesus, foi a obra mais indicada.

“Kopenawa reitera que os yanomami defendem a terra ‘porque desejam continuar vivendo nela como antigamente’”, diz a poeta e crítica literária Graça Graúna, uma das intelectuais convidadas pelo projeto.

“Que assim seja porque as palavras dos espíritos estão gravadas no mais fundo do seu pensamento e que, pela força de Omana (o Criador), essas palavras se renovam no xamã o tempo todo.”

Thyago Nogueira, diretor do departamento de fotografia contemporânea do IMS (Instituto Moreira Salles) e editor-chefe da revista ZUM, também recomenda o livro.

“O líder e xamã reinventa a compreensão do Brasil ao narrar a origem do mundo e de tudo o que é vivo, os fundamentos de sua civilização, sua luta incansável contra o genocídio e a falácia destrutiva da ideia de desenvolvimento promovida pelo ‘povo da mercadoria’”, ele escreveu.

Leia a seguir comentários dos curadores que indicaram “A Queda do Céu”.

Djuena Tikuna

Cantora, foi a primeira jornalista indígena Tikuna formada no estado do Amazonas

“A obra é uma esplêndida sessão xamânica guiada pelo líder yanomami Davi Kopenawa. O livro aborda elementos da cultura yanomami, sua visão de mundo, a importância das práticas xamânicas para a saúde do universo, um testemunho que vem da floresta com a legitimidade de seus espíritos.

Outra parte da obra narra a relação com os brancos: como estes lidam com a terra, a exploração do ouro e as doenças trazidas com os garimpeiros. Também é uma autobiografia de Kopenawa, uma das maiores lideranças indígenas do país, com reconhecimento internacional por sua luta em defesa da Amazônia.”

Eric Novello

Escritor, roteirista e tradutor de livros e quadrinhos, é autor da novela “Ninguém Nasce Herói”

“Registrado ao longo de anos pelo etnólogo Bruce Albert, o livro reúne relatos do xamã yanomami Davi Kopenawa, contando da sua preparação para se tornar xamã a seu ativismo pela demarcação de terras dos yanomami e preservação das florestas.

Por meio de um potente relato, aprendemos sobre os costumes, a cosmologia e a riqueza da cultura do povo Yanomami. Aprendemos ainda sobre o rastro de violência, destruição e doenças deixado pelo contato com missionários religiosos, garimpeiros e construtores de estradas.”

Fernanda Diamant

É uma das criadoras da editora Fósforo e da livraria Megafauna; foi curadora da Flip

“Livro escrito a partir do relato do xamã e porta-voz dos yanomami, Davi Kopenawa, ao etnólogo francês Bruce Albert, que tiveram mais de 30 anos de convivência.

A obra é uma mistura de relato autobiográfico, história do impacto da chegada dos brancos —destruição, doença, violência—, xamanismo e cosmologia dos povos da floresta, e ainda uma mirada para o futuro e a importância da preservação da Amazônia.”

Graça Graúna

Indígena potiguara, é poeta e crítica literária, autora de “Tessituras da Terra”

“Uma das temáticas do xamã Davi Kopenawa é a floresta. Na parte introdutória do livro, ele diz que gosta de explicar para os ‘brancos’ a importância dos saberes ancestrais e espera que os não indígenas parem de pensar que a floresta é morta e que ela foi posta lá à toa. O xamã explica que os não indígenas precisam ‘escutar a voz dos ‘xapiri’ (espíritos), que ali brincam sem parar, dançando sobre os seus espelhos resplandecentes (os rios, os lagos).

Kopenawa reitera que os yanomami defendem a terra ‘porque desejam continuar vivendo nela como antigamente’. Que assim seja porque as palavras dos espíritos estão gravadas no mais fundo do seu pensamento e que, pela força de Omana (o Criador), essas palavras se renovam no xamã o tempo todo.”

Itamar Vieira Junior

Romancista, é autor de “Torto Arado” e colunista da Folha

“‘A Queda do Céu’ é um organismo vivo, como uma ‘pele de imagens’ –é assim que os yanomami se referem a documentos escritos diversos.

Centrado na vida do xamã e ativista yanomami Davi Kopenawa, na cosmologia de seu povo e atravessando a história do genocídio dos povos indígenas, desde a invasão europeia no continente americano até os nossos dias, o livro é a revelação do que poderíamos ter sido se tivéssemos sensibilidade para escutar o que os povos originários tinham –e ainda têm!– a nos dizer.”

Joel Zito Araújo

Diretor de filmes como “A Negação do Brasil” e “As Filhas do Vento”

“É um manifesto, um livro autobiográfico e um modo de ver que se faz cada vez mais urgente: como viver com a floresta, com a diversidade de cultura e de povos, e como reaprender a pensar a terra e ajudar a salvar o planeta, a partir da imensa sabedoria ancestral dos povos indígenas.”

José Celso Martinez Corrêa

Diretor do Teatro Oficina

“O xamã Davi Kopenawa gravou em yanomami com o etnólogo francês, Bruce Albert, sua vida nas lutas com seu povo contra a cegueira do ‘mercado’. Esse livro revela o povo índio sujeito, com cultura xamânica que se aconselha com os ‘xapiri’, espíritos da floresta.

O livro é ‘manifesto xamânico’, revelando, nessa autobiografia, a luta pela floresta em pé, impedindo que a mineração envenene rios nos territórios sagrados. Demonstra que o desequilíbrio da terra pelo arrancar brutal de suas entranhas poderá trazer nosso fim: ‘A Queda do Céu’.”

Lia Vainer Schucman

Professora da UFSC e autora de “Entre o Encardido, o Branco e o Branquíssimo”

“A violência, a destruição e a queda do céu estão assertivamente associados ao ‘povo da mercadoria’. O livro revela o que nomeamos como desenvolvimento e progresso como o fim de outros mundos. Um olhar para a violência colonial a partir daquele que há 500 anos vem sendo destruído por ela. Um livro de entrada para outros Brasis.”

Lilia Schwarcz

Historiadora e antropóloga, é professora da USP, cofundadora da Companhia das Letras e autora de mais de uma dezena de livros

“Os relatos desse importante líder yanomani foram registrados pelo etnólogo e amigo de mais de 30 anos, Bruce Albert. O livro traz a história de Kopenawa e suas meditações enquanto xamã diante, sobretudo, da atitude predadora dos brancos, com a qual seu povo sofre desde os primeiros contatos nos anos 1960.”

Luiz Eloy Terena

Coordenador da assessoria jurídica da Articulação dos Povos Indígenas do Brasil (Apib)

“O livro registra a vida e os pensamentos do líder e xamã yanomami, que é uma das personalidades indígenas brasileiras mais conhecidas no mundo hoje.

Kopenawa tem sido um porta-voz dos povos da Amazônia que lutam contra as novas invasões coloniais, representadas pela mineração, pela extração de madeira, pelo agronegócio e pelas grandes hidrelétricas.”

​Manuela Carneiro da Cunha

Antropóloga, professora titular aposentada da USP e autora de “Cultura com Aspas” e “Negros, Estrangeiros”

“Este livro é uma obra-prima. Tornou possível –graças à longa amizade entre dois homens, ao conhecimento de um antropólogo da língua e do mundo dos yanomami, e à grande inteligência e sensibilidade de ambos os interlocutores– ter acesso como nunca antes a um universo de entrada muito difícil, o pensamento filosófico de um xamã e líder político de primeira grandeza.

É um diálogo de qualidade excepcional, que coloca em novo patamar o ofício do antropólogo e que revela com clareza como Davi Kopenawa interpreta e julga o Brasil contemporâneo.”

Mauricio Terena

Mestre em educação e assessor jurídico da Articulação dos Povos Indígenas do Brasil (Apib)

“É uma obra que nos permite visualizar como o genocídio marca a história da formação do Estado brasileiro, nos despertando uma reflexão ímpar em alguns momentos da leitura, trazendo uma angústia pela história não contada dos brasileiros que aqui estavam antes de Pindorama se tornar Brasil.”

Milton Hatoum

Romancista e tradutor, é autor de livros como “Dois Irmãos” e “Pontos de Fuga”

“Durante 12 anos, Bruce Albert conversou em yanomami com o xamã Davi Kopenawa. As conversas, gravadas e anotadas, foram traduzidas e editadas por Albert. Trata-se de um belíssimo e fecundo ‘pacto etnográfico’ entre o xamã e o antropólogo.

Kopenawa fala de sua vida, de sua sabedoria xamânica, de sua experiência no mundo dos brancos, da cosmologia e da história dos yanomami. Uma história que tem resistido a muitas tragédias: doenças transmitidas pelos brancos, ingerência nefasta de missionários evangélicos e sucessivas invasões das terras indígenas por garimpeiros.

Uma dessas invasões culminou no massacre de Haximu, em meados de 1993. É preciso conhecer, valorizar e defender a história material e espiritual dos povos originários do Brasil, essa pátria cada vez mais armada que amada.”

Moara Tupinambá

Artista visual, curadora e ativista

“Um livro essencial para quem quiser entender melhor a noção de desenvolvimento e progresso do capitalismo, como o avanço dos brancos na floresta tem ocasionado as epidemias, as violências e a grande crise climática que estamos vivendo –tudo isso a partir da visão de um líder xamã yanomami.

A partir de seus relatos, que são transcritos por Bruce Albert, Davi nos conta sobre todas as violências que seu povo vem sofrendo desde os anos 1960 e nos alerta, em um tom profético, que quando o último xamã da Amazônia morrer, o céu cairá sobre todos e será o fim do mundo.”

Ricardo Teperman

Editor na Companhia das Letras e autor de “Se Liga no Som”

“Fruto de uma colaboração de mais de duas décadas com o antropólogo Bruce Albert, ‘A Queda do Céu’ registra em primeira pessoa a vida e o pensamento do xamã yanomami Davi Kopenawa. O feito, inédito, fez do livro um divisor de águas na antropologia e na filosofia.”

Thyago Nogueira

Curador e editor, dirige o departamento de fotografia contemporânea do IMS (Instituto Moreira Salles) e é editor-chefe da revista ZUM

“Com 736 páginas, este livro é pequeno diante de sua importância monumental. Nele, o líder e xamã Davi Kopenawa reinventa a compreensão do Brasil ao narrar a origem do mundo e de tudo o que é vivo, os fundamentos de sua civilização, sua luta incansável contra o genocídio e a falácia destrutiva da ideia de desenvolvimento promovida pelo ‘povo da mercadoria’.

Com alta densidade mitológica, literária e visual, Kopenawa nos oferece a chance única de repensar a centralidade de nossa existência e evitar que o céu desabe sobre o futuro do país e do mundo.”

Fonte:https://umaincertaantropologia.org/2022/06/28/a-queda-do-ceu-expoe-sabedoria-de-xama-dizem-curadores-do-200-anos-200-livros-folha-de-s-paulo/

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